The xx: acertar assim é coisa rara



por Tiago Pereira
26.05.2010

Para conquistar, em palco, os The xx quebram as regras do bom senso pop: apresentam as canções gravadas em disco como já as escutámos uma e outra vez antes da noite marcada há meses.

O risco é controlado, os desvios de rota são estudados e evitam qualquer decisão precipitada. Mas no caso deste trio britânico toda esta disciplina é a melhor das surpresas.

Quem esteve na Aula Magna em Lisboa, na noite de ontem, queria cantar os versos de desamor e a tragédia que é crescer que esta miudagem escreveu vestida.

E ofereceram tudo o que deles se esperava, deixando a pergunta: pode tal fórmula repetir-se num segundo disco ou acertar assim é coisa que acontece apenas uma vez?

Dilema curioso para preocupados com futurologia mas nada mais que uma questão efémera. Importava mais a simplicidade do palco, com o melhor desenho de luzes dos últimos tempos.

Não que seja elemento decisivo para escolhermos recordar ou não um concerto anos depois de ter passado por este mundo mas, neste caso particular, a produção em causa fica-lhes tão bem como cada refrão que cantam.

De tal forma graciosa ocupam o palco que quase arriscamos dizer que estes The xx são hoje um trio porque a música que fazem pede por tal imagem perfeita, não porque Baria Qureshi decidiu sair por razões pessoais ou afins.

E o público fez o resto, nervosos desde a entrada na sala, a desejar que aquele momento, que roubou menos de uma hora de vida dos que o presenciaram se prolongasse, nem que para isso se escutasse a repetição do único álbum editado pela banda, outra vez e outra vez.

Porque os The xx fazem do minimalismo uma fonte inesgotável de harmonia rítmica e melódica. Uma paleta de cores aparentemente tão limitada é, afinal, bastante para gerar tons tão dispersos. E ao vivo, frases teóricas como esta ganham ainda mais legitimidade. Hoje estão na Casa da Música, no Porto, para fazer tudo outra vez, apostamos.