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por André Rito
3,6. 2010
Primeira longa-metragem de Telmo Martins é "um grito" pelo cinema independente. Equipe só vai receber quando o filme der lucro
Como se faz um filme sem dinheiro? A pergunta pairou sobre a cabeça de Telmo Martins durante meses a fio. Depois de ver negados os apoios públicos do ICA e FICA, o realizador decidiu não ficar de braços cruzados.
Juntou uma equipe de 30 pessoas e avançou para o projecto. Com uma premissa: actores, técnicos e produção só seriam pagos quando começassem a chegar os lucros da bilheteira.
Mais do que um filme, "Um Funeral à Chuva" é um grito pelo cinema independente. Uma obra que resulta de alguma inspiração e muita transpiração", e que chega hoje às salas de cinema portuguesas.
Rodado integralmente na Covilhã, recortado pelas paisagens da Serra da Estrela, o filme é o resultado da ideia de três pessoas e do trabalho de 30. "Há gente com vontade de trabalhar e crescer profissionalmente, no fundo esse foi o segredo deste filme", explica o realizador ao i.
Para cumprir o orçamento de 80 mil euros previstos para a produção, Telmo Martins realizou filmes institucionais e apostou na produção de páginas web através da empresa que fundou pouco depois de terminar o curso de Design Multimédia. Hoje, diz, "a Lobby Productions está descapitalizada".
O esforço, coroado agora com a estreia comercial, não se limitou à equipe de produção. Contou com apoios privados "não financeiros" e com a boa vontade de alguns comerciantes da Covilhã.
"Fomos a várias lojas da cidade, pedimos móveis e materiais de decor emprestados, tivemos apoios logísticos decisivos. As pessoas mostraram-se sempre muito disponíveis para ajudar. Nunca nos pediram número de telefone ou BI, nada", garante.
A decisão de filmar numa cidade do interior não se justifica apenas pela equipe, composta quase em exclusivo por ex-alunos da Universidade da Beira Interior.
"Serve também para mostrar que é possível fazer coisas fora de Lisboa ou Nova Iorque." Por questões financeiras, o filme foi rodado em tempo recorde, e quase sempre de noite. "Precisamos de pouco mais de 20 dias", recorda o realizador. Para além dos actores recrutados no local, conta com as participações de caras conhecidas como Alexandre da Silva, Hugo Tavares, Pedro Diogo ou Pedro Górgia.
"Um Funeral à Chuva" tem o mesmo ponto de partida de "Os Amigos de Alex", de Lawrence Kasdan (1983). Conta a história de um grupo de antigos estudantes da universidade que regressa à cidade após dez anos sem se verem, para o funeral de um deles, cujo último desejo era ser sepultado na Serra da Estrela.
"Quando se acaba um curso a vida muda radicalmente: os dias passam a uma velocidade estonteante, tornamo-nos mais máquinas e menos seres humanos", acredita o realizador. A narrativa deambula entre sentimentos genuínos e as "máscaras que todos usam na sua vida real".
Telmo Martins nasceu numa pequena vila às portas de Oliveira de Azeméis. Em 2006 foi estudar para a Covilhã, onde se licenciou em Design Multimédia e frequentou várias cadeiras de cinema. É também autor de curtas-metragens premiadas em festivais.
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