Bonnie Prince Billy



por Tiago Pereira
04.6. 2010

Especulamos nós que Will Oldham tem uma relação crónica com a criatividade musical. Agradecemos, claro, já que ninguém canta os segredos quotidianos como o ouvimos fazer nas suas canções.

O mais trivial dos desafios é transformado em poesia de melodia apurada ao detalhe, como se a folk de terras americanas tivesse nascido séculos antes apenas para acolher os seus desabafos à guitarra.

Oldham tem feito tudo isto usando diferentes nomes – cada um representando uma espécie de personalidade que este músico renascentista descobriu na sua própria criação (foi a consciência de tal fenómeno que o levou a trabalhar assim).

Mas esqueçamos por momentos as outras faces deste herói de trovas e trilhos e concentremo-nos naquele que tem sido o mais óbvio espelho das suas intenções artísticas: Bonnie “Prince” Billy.

O “grande continente americano” em seis cordas e voz de vagabundo. Escutam-se as canções e imaginam-se os trajectos que o homem faz enquanto procura ser músico. A nossa sorte para hoje?

Tudo vai acontecer primeiro em Lisboa, depois em Aveiro. Mas desta vez com o Cairo Gang e Susanna, a mesma da Magical Orchestra.

O que tem isto de novo: uma procura ainda mais descarada do que fez a country, das obras que agradecemos à tradição oral (que trabalha da mesma forma em toda a parte e aquém agradecemos quase toda a riqueza musicada que acolhemos hoje), que trabalha o isolamento instrumental com um raro à vontade, que pede ajuda a palmas e pés nervosos, a percussões minimais e vozes em harmonia.

Ou seja, tudo aquilo que fez o álbum “The Wonder Show of The World”, registro com o carimbo de 2010 e que, mais uma vez, arrisca a intemporalidade. Acreditamos que os concertos do fim-de-semana venham ter a mesma pontaria.
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