![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeDn-zlmZvbbI-dYBR3j3o0ePhmQlB5_fvbHWPmVTNMnD6mWt8lTnv_Xekqhq-M4JHB9KECCwrXi_1iBGP8e_JPZCsiqcWobZvp-7JpbvNAeiKHfrm_9UiqsQvIP4oWx750HIxkHuX138/s320/Herzog.jpg)
Por Helen Barlow
20.05.2010
Conheciam-se há quase 40 anos, mas nunca tinham feito nada juntos, até este "Polícia sem Lei" em que Cage snifa cocaína como um verdadeiro "junkie" em lugares malditos da sua cidade, Nova Orleães. Herzog continua pasmado (e é mútuo): este é o encontro de dois "cavalheiros maravilhosos"
Em todas as entrevistas acerca do filme que fizeram juntos, Werner Herzog e Nicolas Cage são peremptórios nisto: "Polícia sem Lei" nada tem a ver com o filme de culto homónimo que Abel Ferrara realizou em 92, com Harvey Keitel.
"Propus 'Port of Call New Orleans' como título", recorda Herzog, "mas infelizmente não consegui convencer os produtores."
Nova Orleães, a cidade onde tudo isto aconteceu, ficou, no original em língua inglesa, apenas como subtítulo de "Bad Lieutenant", e a proximidade com o filme de Ferrara ganhou, assim, proporções que não estavam nos planos.
Certamente que hoje, quando Herzog, com 67 anos, e Cage, com 46, falam - em entrevistas separadas -, acabamos por perceber que a única coisa que os dois filmes têm em comum é que ambos representam um encontro de cabeças e de talentos originais e de excepção.
Cage trabalhou, de resto, com Keitel em várias ocasiões: "Harvey e eu somos amigos e eu adoro os filmes do Abel [Ferrara], incluindo 'Polícia sem Lei'".
Herzog é toda uma outra história: conheceu-o nas vinhas californianas do tio, Francis Ford Coppola, quando tinha apenas oito anos.
"O Francis estava a dar uma festa e o George Lucas estava ainda no carro quando o Werner entrou", conta Cage, penetrando na sua infância, que foi bastante privilegiada.
"O Werner estava com uma t-shirt branca e tinha uma tatuagem com uma caveira e um chapéu alto. Lembro-me disso, embora seja uma imagem assim um pouco dissipada, de há muito tempo atrás".
Não diz se o realizador alemão contribuiu para a sua paixão por todas as coisas góticas e germânicas (até há pouco tempo, era proprietário de um castelo na Baviera).
Mas já não usa o anel de caveira que durante muitos anos o acompanhou. "Isso veio de uma filosofia que li, japonesa, que diz que temos de merecer o direito a morrer. Trabalha-se arduamente porque a morte é o nosso descanso. É uma filosofia sobre não desperdiçar o tempo de vida a viajar, a aprender sobre a vida e a natureza, a conhecer pessoas, ou através do próprio trabalho árduo, a fazer filmes, por exemplo. Por isso, não, já não preciso do anel. Ele ficou, digamos, tatuado em mim", explica o actor.
"Polícia sem Lei", dizíamos, é completamente um encontro de mentes. Quando começaram a fazer o filme, Cage e Herzog estavam de acordo em dois pontos: que o filme devia ser filmado em Nova Orleães e que ambos adoravam répteis.
A peste e o cavalheiro
Filmar com Nicolas Cage foi, para o cineasta alemão, uma espécie de ajuste de contas com a história. "Achava um absurdo nunca termos trabalhado juntos. Por isso, quando surgiu o projecto, tivemos duas curtas conversas ao telefone", diz Herzog.
"O Nicolas estava a filmar na Austrália; não nos encontrámos, mas decidimos que tínhamos de o fazer. Disse-lhe que o levaria onde nunca havia ido antes e ele não se juntaria ao projecto se eu não fizesse parte dele. Eu também não o faria se não fosse com ele, pois a perspectiva de trabalhar com este actor fenomenal era excelente".
A ideia de filmar em Nova Orleães foi mais prosaica: havia fortes incentivos fiscais em jogo, explica o realizador. "Queria fazer o filme logo depois do furacão Katrina, após a total destruição da cidade, no meio de toda aquela decadência moral, do colapso da civilidade, das pilhagens.
Achei fantástico filmar lá e, claro, havia também o facto de o Nicolas ter lá uma casa. Ele convidou-me para ficar em casa dele, mas eu disse que era melhor não criarmos grandes intimidades. Queria separar as coisas, para manter uma certa intensidade nas filmagens".
Cage, claro, vivia ele próprio em Nova Orleães (embora neste momento já tenha vendido as duas mansões que lá possuía, uma das quais se diz ser assombrada, para minorar as suas muito divulgadas dificuldades financeiras), e admite que a sua relação com aquele local, que descreve como uma "cidade de magia e misticismo, simultaneamente bela e assustadora", contribuiu positivamente para o seu desempenho.
"Tenho com aquela cidade uma relação de amor-ódio, que é o tipo mais forte de relação. Sinto-me simultaneamente amaldiçoado e abençoado em Nova Orleães e fiquei aterrorizado com a ideia de voltar e fazer lá um filme. Mas precisava de o fazer em Nova Orleães, para enfrentar qualquer possível experiência estimulante que surgisse, para saber que era capaz. E fico contente por poder dizer que resultou", conclui agora.
O filme de Herzog apenas se assemelha superficialmente ao "Polícia sem Lei" de Ferrara no sentido em que também retrata um polícia corrupto, viciado em drogas, que age à margem da lei.
Diz Cage que, em muitos aspectos, este tenente é de louvar, por ser um dos poucos que ficaram na cidade quando o caos era total. Inspirou-se nas dores de costas crónicas da personagem para desenvolver um andar ligeiramente curvado na sua interpretação.
"Era uma oportunidade para fazer algo com a movimentação corporal da personagem. Queria que ele tivesse um andar diferente. Quem sabe o que aconteceria se tivéssemos de viver com aquelas dores? Recorreríamos ou não às drogas? Em última análise, quis perceber se conseguiria trazer para o filme o vício da droga com o filtro da minha sobriedade e o poder da minha imaginação. De forma a que se obtivesse uma abordagem impressionista, ao passo que em 'Morrer em Las Vegas' a abordagem era mais 'fotorrealista'".
A representação de Cage foi tão convincente que Herzog não acreditava que o actor - cuja pesquisa para a sua personagem de "Morrer em Las vegas" (que lhe valeu um Oscar) se centrara no consumo de quantidades absurdas de álcool - estava de facto sóbrio.
"O Werner pensou que eu estava a consumir cocaína. 'O que é tens nesse frasquinho?', perguntava ele [Cage imita o sotaque alemão]. Não podes fazer isso aqui no local das filmagens!' Achei que isso era um bom sinal".
"Parecia tão real", concorda Herzog. "Ele snifava com tal convicção que senti mesmo que tinha de acabar com aquilo. Nunca consumi drogas em toda a minha vida. Mesmo quando estou entre pessoal do cinema e me passam um charro, passo-o ao próximo. Nunca dei uma passa. Nunca consumi nada disso, não por ser um moralista, mas simplesmente porque não gosto da cultura que rodeia as drogas. Na realidade, retirei pelo menos cinco cenas em que ele snifa cocaína ou heroína. É claro que tínhamos um especialista que providenciava um pó com um aspecto exactamente igual ao da cocaína, mas era a forma como o Nicolas a snifava e a forma como ele se transformava a seguir que me faziam pensar: 'Meu Deus, tenho de acabar com isto!' Claro que depois percebi que era a fingir, mas isto mostra bem o calibre dele como actor".
Herzog diz que Cage é "um dos actores mais incrivelmente dotados" com que já trabalhou: "Klaus Kinski foi um. Christian Bale foi outro, e há mais uns quantos". Mas enquanto descreve Kinski como "uma peste", Herzog diz que Cage "é um cavalheiro maravilhoso".
Cirurgia de coração aberto
Eva Mendes é a prostituta que está ao lado de Cage em "Polícia sem Lei". Herzog teve de insistir para tê-la no filme, já que a personagem principal tinha de estar bem apoiada por um forte elenco.
"Já imaginaram o Humphrey Bogart no 'Casablanca' sem a Ingrid Bergman? Estaria desamparado. Mas os produtores não queriam a Eva. 'Mas quem é ela?', perguntavam. 'Quase não fez filmes nenhuns'. Cinco meses mais tarde, quando acabei o filme, Eva foi eleita a mulher mais sensual e erótica do planeta. Nessa altura recebi uma série de telefonemas dos produtores. 'Ainda bem que ela esteve connosco no projecto!' E eu disse-lhes: 'Seus idiotas! Eu tive de lutar para tê-la no filme!"
Talvez igualmente importantes tenham sido os répteis de Herzog. "O Werner é muito dedicado às suas iguanas e quis ter a certeza de que, sempre que possível, estariam em grande plano, no centro da acção", recorda Cage com um sorriso afectuoso.
"Fizemos um pequeno convívio e ele estava no bar, muito perturbado porque não estava a conseguir tempo suficiente dos seus répteis no filme. Precisava de, pelo menos, três a cinco minutos com eles e, se não conseguisse isso, ficava tão transtornado que nunca mais dirigia nenhum filme. Voltei para casa nessa noite a pensar nisso, liguei-lhe e disse: 'Ainda temos de filmar aquela cena em que eu prendo o casal de jovens na rua. Porque é que não cortas essa cena e aí podes ter todo o tempo que quiseres para as iguanas?' E ele disse: 'Não, não, Nicolas! Obrigado, és muito gentil, mas também preciso dessa cena'".
Não há muitos actores que, como Cage, tenham em comum com Herzog esta paixão pelos répteis. "Eu não sabia disso até jantarmos juntos em Nova Orleães, antes de iniciarmos as filmagens", nota Herzog.
"Sim, adoro filmá-las e dar-lhes papéis importantes nos meus filmes, e o Nicolas apoiou-me muito nisso. Quando cheguei ao local de filmagens, fui logo falar com o director de fotografia e disse: 'Não toque nisso, vou filmar eu próprio com esta lente pequenina e o cabo de fibra óptica'. Tive de a segurar apenas a alguns milímetros da pele da iguana. Ela ficou com um ar tão estúpido e surpreendido que eu sabia que o resultado iria ser desconcertante".
Cage apreciou a maneira como Herzog vai ao essencial.
20.05.2010
Conheciam-se há quase 40 anos, mas nunca tinham feito nada juntos, até este "Polícia sem Lei" em que Cage snifa cocaína como um verdadeiro "junkie" em lugares malditos da sua cidade, Nova Orleães. Herzog continua pasmado (e é mútuo): este é o encontro de dois "cavalheiros maravilhosos"
Em todas as entrevistas acerca do filme que fizeram juntos, Werner Herzog e Nicolas Cage são peremptórios nisto: "Polícia sem Lei" nada tem a ver com o filme de culto homónimo que Abel Ferrara realizou em 92, com Harvey Keitel.
"Propus 'Port of Call New Orleans' como título", recorda Herzog, "mas infelizmente não consegui convencer os produtores."
Nova Orleães, a cidade onde tudo isto aconteceu, ficou, no original em língua inglesa, apenas como subtítulo de "Bad Lieutenant", e a proximidade com o filme de Ferrara ganhou, assim, proporções que não estavam nos planos.
Certamente que hoje, quando Herzog, com 67 anos, e Cage, com 46, falam - em entrevistas separadas -, acabamos por perceber que a única coisa que os dois filmes têm em comum é que ambos representam um encontro de cabeças e de talentos originais e de excepção.
Cage trabalhou, de resto, com Keitel em várias ocasiões: "Harvey e eu somos amigos e eu adoro os filmes do Abel [Ferrara], incluindo 'Polícia sem Lei'".
Herzog é toda uma outra história: conheceu-o nas vinhas californianas do tio, Francis Ford Coppola, quando tinha apenas oito anos.
"O Francis estava a dar uma festa e o George Lucas estava ainda no carro quando o Werner entrou", conta Cage, penetrando na sua infância, que foi bastante privilegiada.
"O Werner estava com uma t-shirt branca e tinha uma tatuagem com uma caveira e um chapéu alto. Lembro-me disso, embora seja uma imagem assim um pouco dissipada, de há muito tempo atrás".
Não diz se o realizador alemão contribuiu para a sua paixão por todas as coisas góticas e germânicas (até há pouco tempo, era proprietário de um castelo na Baviera).
Mas já não usa o anel de caveira que durante muitos anos o acompanhou. "Isso veio de uma filosofia que li, japonesa, que diz que temos de merecer o direito a morrer. Trabalha-se arduamente porque a morte é o nosso descanso. É uma filosofia sobre não desperdiçar o tempo de vida a viajar, a aprender sobre a vida e a natureza, a conhecer pessoas, ou através do próprio trabalho árduo, a fazer filmes, por exemplo. Por isso, não, já não preciso do anel. Ele ficou, digamos, tatuado em mim", explica o actor.
"Polícia sem Lei", dizíamos, é completamente um encontro de mentes. Quando começaram a fazer o filme, Cage e Herzog estavam de acordo em dois pontos: que o filme devia ser filmado em Nova Orleães e que ambos adoravam répteis.
A peste e o cavalheiro
Filmar com Nicolas Cage foi, para o cineasta alemão, uma espécie de ajuste de contas com a história. "Achava um absurdo nunca termos trabalhado juntos. Por isso, quando surgiu o projecto, tivemos duas curtas conversas ao telefone", diz Herzog.
"O Nicolas estava a filmar na Austrália; não nos encontrámos, mas decidimos que tínhamos de o fazer. Disse-lhe que o levaria onde nunca havia ido antes e ele não se juntaria ao projecto se eu não fizesse parte dele. Eu também não o faria se não fosse com ele, pois a perspectiva de trabalhar com este actor fenomenal era excelente".
A ideia de filmar em Nova Orleães foi mais prosaica: havia fortes incentivos fiscais em jogo, explica o realizador. "Queria fazer o filme logo depois do furacão Katrina, após a total destruição da cidade, no meio de toda aquela decadência moral, do colapso da civilidade, das pilhagens.
Achei fantástico filmar lá e, claro, havia também o facto de o Nicolas ter lá uma casa. Ele convidou-me para ficar em casa dele, mas eu disse que era melhor não criarmos grandes intimidades. Queria separar as coisas, para manter uma certa intensidade nas filmagens".
Cage, claro, vivia ele próprio em Nova Orleães (embora neste momento já tenha vendido as duas mansões que lá possuía, uma das quais se diz ser assombrada, para minorar as suas muito divulgadas dificuldades financeiras), e admite que a sua relação com aquele local, que descreve como uma "cidade de magia e misticismo, simultaneamente bela e assustadora", contribuiu positivamente para o seu desempenho.
"Tenho com aquela cidade uma relação de amor-ódio, que é o tipo mais forte de relação. Sinto-me simultaneamente amaldiçoado e abençoado em Nova Orleães e fiquei aterrorizado com a ideia de voltar e fazer lá um filme. Mas precisava de o fazer em Nova Orleães, para enfrentar qualquer possível experiência estimulante que surgisse, para saber que era capaz. E fico contente por poder dizer que resultou", conclui agora.
O filme de Herzog apenas se assemelha superficialmente ao "Polícia sem Lei" de Ferrara no sentido em que também retrata um polícia corrupto, viciado em drogas, que age à margem da lei.
Diz Cage que, em muitos aspectos, este tenente é de louvar, por ser um dos poucos que ficaram na cidade quando o caos era total. Inspirou-se nas dores de costas crónicas da personagem para desenvolver um andar ligeiramente curvado na sua interpretação.
"Era uma oportunidade para fazer algo com a movimentação corporal da personagem. Queria que ele tivesse um andar diferente. Quem sabe o que aconteceria se tivéssemos de viver com aquelas dores? Recorreríamos ou não às drogas? Em última análise, quis perceber se conseguiria trazer para o filme o vício da droga com o filtro da minha sobriedade e o poder da minha imaginação. De forma a que se obtivesse uma abordagem impressionista, ao passo que em 'Morrer em Las Vegas' a abordagem era mais 'fotorrealista'".
A representação de Cage foi tão convincente que Herzog não acreditava que o actor - cuja pesquisa para a sua personagem de "Morrer em Las vegas" (que lhe valeu um Oscar) se centrara no consumo de quantidades absurdas de álcool - estava de facto sóbrio.
"O Werner pensou que eu estava a consumir cocaína. 'O que é tens nesse frasquinho?', perguntava ele [Cage imita o sotaque alemão]. Não podes fazer isso aqui no local das filmagens!' Achei que isso era um bom sinal".
"Parecia tão real", concorda Herzog. "Ele snifava com tal convicção que senti mesmo que tinha de acabar com aquilo. Nunca consumi drogas em toda a minha vida. Mesmo quando estou entre pessoal do cinema e me passam um charro, passo-o ao próximo. Nunca dei uma passa. Nunca consumi nada disso, não por ser um moralista, mas simplesmente porque não gosto da cultura que rodeia as drogas. Na realidade, retirei pelo menos cinco cenas em que ele snifa cocaína ou heroína. É claro que tínhamos um especialista que providenciava um pó com um aspecto exactamente igual ao da cocaína, mas era a forma como o Nicolas a snifava e a forma como ele se transformava a seguir que me faziam pensar: 'Meu Deus, tenho de acabar com isto!' Claro que depois percebi que era a fingir, mas isto mostra bem o calibre dele como actor".
Herzog diz que Cage é "um dos actores mais incrivelmente dotados" com que já trabalhou: "Klaus Kinski foi um. Christian Bale foi outro, e há mais uns quantos". Mas enquanto descreve Kinski como "uma peste", Herzog diz que Cage "é um cavalheiro maravilhoso".
Cirurgia de coração aberto
Eva Mendes é a prostituta que está ao lado de Cage em "Polícia sem Lei". Herzog teve de insistir para tê-la no filme, já que a personagem principal tinha de estar bem apoiada por um forte elenco.
"Já imaginaram o Humphrey Bogart no 'Casablanca' sem a Ingrid Bergman? Estaria desamparado. Mas os produtores não queriam a Eva. 'Mas quem é ela?', perguntavam. 'Quase não fez filmes nenhuns'. Cinco meses mais tarde, quando acabei o filme, Eva foi eleita a mulher mais sensual e erótica do planeta. Nessa altura recebi uma série de telefonemas dos produtores. 'Ainda bem que ela esteve connosco no projecto!' E eu disse-lhes: 'Seus idiotas! Eu tive de lutar para tê-la no filme!"
Talvez igualmente importantes tenham sido os répteis de Herzog. "O Werner é muito dedicado às suas iguanas e quis ter a certeza de que, sempre que possível, estariam em grande plano, no centro da acção", recorda Cage com um sorriso afectuoso.
"Fizemos um pequeno convívio e ele estava no bar, muito perturbado porque não estava a conseguir tempo suficiente dos seus répteis no filme. Precisava de, pelo menos, três a cinco minutos com eles e, se não conseguisse isso, ficava tão transtornado que nunca mais dirigia nenhum filme. Voltei para casa nessa noite a pensar nisso, liguei-lhe e disse: 'Ainda temos de filmar aquela cena em que eu prendo o casal de jovens na rua. Porque é que não cortas essa cena e aí podes ter todo o tempo que quiseres para as iguanas?' E ele disse: 'Não, não, Nicolas! Obrigado, és muito gentil, mas também preciso dessa cena'".
Não há muitos actores que, como Cage, tenham em comum com Herzog esta paixão pelos répteis. "Eu não sabia disso até jantarmos juntos em Nova Orleães, antes de iniciarmos as filmagens", nota Herzog.
"Sim, adoro filmá-las e dar-lhes papéis importantes nos meus filmes, e o Nicolas apoiou-me muito nisso. Quando cheguei ao local de filmagens, fui logo falar com o director de fotografia e disse: 'Não toque nisso, vou filmar eu próprio com esta lente pequenina e o cabo de fibra óptica'. Tive de a segurar apenas a alguns milímetros da pele da iguana. Ela ficou com um ar tão estúpido e surpreendido que eu sabia que o resultado iria ser desconcertante".
Cage apreciou a maneira como Herzog vai ao essencial.
"O Werner não precisa de muita parafernália, nem de muitos ângulos de câmara. E também não precisa de muitos 'takes'. Isso cria uma atmosfera onde nos sentimos mais livres e espontâneos. Funciona bem com o que eu estava a tentar fazer, e que era uma abordagem baseada no jazz americano - já que estávamos no berço do jazz. Era uma mistura do essencial e da vontade dele de ir a alguns cenários no mínimo arrojados, como a cena no lar de idosos e a exposição no antro de droga, e também a cena na rua, com a arma no ar, tudo coisas que não estavam no roteiro, que foram improvisadas".
"Tenho de admitir", diz Herzog, "que as minhas filmagens são muito calmas. Só falo baixinho; é como uma cirurgia de coração aberto. Não raro, termino a meio da tarde, depois de ter trabalhado calmamente. Não é nada agitado".
http://ipsilon.
"Tenho de admitir", diz Herzog, "que as minhas filmagens são muito calmas. Só falo baixinho; é como uma cirurgia de coração aberto. Não raro, termino a meio da tarde, depois de ter trabalhado calmamente. Não é nada agitado".
http://ipsilon.