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Que fazer de Robespierre,
salvador e assassino?
Por Ana Dias Cordeiro
A vida de Robespierre confunde-se com a Revolução Francesa de 1789 e com os anos de Terror que se seguiram. Mas em Paris não existe uma rua ou uma praça com o seu nome. Quererá a França recordar?
"Notre terreur", em cena na Culturgest assume-se como experiência colectiva política
Surge impecavelmente vestido, como se de um político do nosso século se tratasse. Camisa, gravata e calças de um fato que para ser completo apenas precisaria de um blazer. Surge impecável, mas em desconcerto.
Entre ele e o abismo é apenas uma questão de tempo. Robespierre é um herói, sim, mas um herói por poucos meses.
"Está a construir-se o cenário para a minha morte", diz antes da queda. Mas isso será mais à frente, num instante de lucidez, quando os espíritos entrarem em estado de embriaguez revolucionária e suicidária.
Agora, ainda se está num princípio. E o discurso de Robespierre é firme e eloquente. Mas o olhar vagueia, o corpo estremece. Como se já soubesse.
Nesse princípio, os revolucionários que agora governam no Comité da Salvação Pública esperam a sua chegada. É a ele que ouvem, é ele que seguem, como a um respeitado líder.
Para depois nele depositarem a culpa e o peso do que de mais terrível aconteceu na Revolução Francesa.
Lindet, Billaut, Collot, Couthon e os outros - aqui representados como homens comuns, dos dias de hoje - aguardam então à volta de uma mesa comprida. Um espaço, ocupado por nove homens, mas sobretudo de palavras, na criação colectiva que a companhia francesa "d'ores et déjà" traz na próxima semana a Lisboa.
Palavras que, juntas, criam o equilíbrio justo entre o peso filosófico e a leveza poética. Palavras que, de tão verdadeiras, não se esgotam. Sobre o ideal da revolução e o pesadelo do seu reverso.
"Notre terreur" ("O nosso terror") estará em cena no Grande Auditório da Culturgest nos dias 8, 9 e 10. A peça estreou em setembro de 2009 no La Colline - Théâtre National.
É uma criação sobre os anos do Terror (1793 e 1794) que se seguiram à Revolução Francesa de 1789 que derrubou a monarquia.
E é colectiva porque nela não se distingue (nem se hierarquiza) o trabalho do encenador, Sylvain Creuzevault, e dos actores, Samuel Achache, Benoit Carré, Antoine Cegarra, Éric Charon, Pierre Devérines, Vladislav Galard, Lionel Gonzalez, Arthur Igual e Léo-Antonin Lutinier.
É sempre esta a forma do grupo trabalhar. Mas nesta peça, serve de via natural para os actores entrarem na cabeça e na pele dos revolucionários. São-no já na forma de fazer teatro.
"O nosso objectivo é fazer de 'Notre terreur' um conflito que emane de uma experiência colectiva política e não de uma dominação psíquica e social de um encenador. [O nosso objectivo é] Quebrar os códigos da propriedade intelectual. Ficarmos de pé nas nossas posições, nunca sentados nos nossos lugares", diz Creuzevault numa entrevista por email antes da "troupe" vir para Lisboa.
Mas nada que se possa vislumbrar de um discurso político na peça tem a ver com os dias de hoje. Nada do que aqui se diz é metáfora para os excessos do século XXI. "O terror de então era totalmente diferente daquilo que hoje nomeamos o terrorismo de Estado", esclarece o encenador.
"O primeiro [terror] foi mais uma figura da resistência à opressão quando o segundo é uma opressão." Porém reconhece: "Esta não é efectivamente uma peça histórica. É política por natureza, mas sem uma função política."
A escrita é também colectiva, feita "no tempo dos ensaios e que continua frente aos espectadores", em cena, no palco, inspirada de alguns discursos de figuras da revolução, Georges Couthon, Saint-Just e Robespierre.
Denunciar a impostura
Maximilien Marie Isidore de Robespierre. Advogado, excelente orador, deputado da Convenção Nacional e um dos chefes do governo revolucionário.
Revolucionário da ala mais radical dos jacobinos que combateu a facção dos girondinos, fundador do Comité de Salvação Pública e personalidade da Revolução que mais divide os franceses. Figura sem medo no olho do furacão. Depois da vitoriosa revolta, personifica o Terror dos anos que se seguem.
Num breve momento de glória antes do fim, acredita que o seu nome sobreviverá à morte: "Place Robespierre! A moi la gloire! (A mim a Glória!)". Mas a França, hoje, não o celebra. Ou muito pouco.
As poucas ruas ou praças com o seu nome não são em Paris - no ano passado a Câmara Municipal votou essa restrição.
"Termos uma 'rua Robespierre' em Paris significava dizer que se aceitava que Robespierre não foi aquilo que, durante muito tempo, se fez dele e que ainda hoje se faz. Só uma tradição marxista tentou perceber o governo revolucionário e não apenas julgar Robespierre", considera Sylvain Creuzevault.
Por isso, também, só algumas cidades de políticas comunistas na chamada cintura vermelha em redor de Paris, têm ruas, praças ou estações de metro (como em Montreuil) em homenagem a Robespierre.
O resto é censura, diz o encenador. Mas quererá a França recordar? "Os franceses têm uma relação com esta época que surpreende, em que a exaltação se confunde com o medo", continua.
A visão ou versão dominante deste período faz-se quase de um só lado - o contra-revolucionário. O que a companhia quis fazer, explica Creuzevault, foi questionar essa visão de Robespierre como "de uma máscara do inimigo a abater, e sobre o seu corpo abatido, o lugar de um símbolo que ainda hoje é transmitido como reaccionário: o homem do sangue do Terror", diz. "Queríamos pelo teatro denunciar esta impostura, contrariá-la."
Robespierre carrega o peso desse terror mas também a aura de um libertador. Chamavam-lhe o "incorruptível" por defender o povo. E também o tirano, o ditador, o fanático. Levou ao extremo o ideal da liberdade, esmagando-o. Disso foi acusado. Foi mandado para a guilhotina e executado em 28 de Julho de 1794.
É dessa lenta descida ao inferno que trata "Notre terreur". Ele não implorará nada no fim. Acusará. O que era lúcido, nebuloso se tornará. Palavras sem nexo, faces pintadas, vestes rasgadas, objectos em desarrumo e a mesa que, de tão comprida e direita, parecia apontar para um caminho, está agora desalinhada.
"Já não há linha a direito", diz um dos membros do comité. Já não há uma luz, um sinal a mostrar por onde ir.
Quando pronuncia as últimas palavras - "a pátria queixa-se da nossa fraqueza" - Robespierre não procura compaixão, nem reconhece o impossível do seu ideal. Antes ataca, para se defender. Será isso que fez na realidade quando dele fizeram o tal monstro a abater?
"Decidimos tomar esse risco no teatro, e pensamos que ele o tomou também historicamente", explica Creuzevault.
"Que fazer de Robespierre, salvador e assassino?" pergunta Saint-Just, amigo de Robespierre e um dos membros mais radicais do comité, na primeira cena em que não representa a sua personagem mas recita um texto sobre a relação entre Robespierre e o povo.
E continua: "Viemos, Grande Robespierre, para te celebrar/ E, querido representante, para depositar as cores da pátria a teus pés/ E viemos ver no teu rosto de que são feitos os traços de um tirano."
Na récita, o actor deixa que o seu corpo seja tomado pela força das palavras. Fala para alguém, mas está sozinho. Estende a mão e, em representação do povo, declara: "Glória a ti, Grande Robespierre, representante do povo francês, salvador, libertador da primeira República deste mundo/ E maldito sejas tu, assassino, tirano da opinião, burguês sequioso de sangue inocente, de quem o sangue não devia ter derramado, do qual és culpado, e por isso serás castigado."
Nesta récita de introdução, o actor exalta-se e comove-se, contorce-se, antes de se converter na personagem que representa no resto da peça, Saint-Just, e juntar-se à mesa comprida do Comité da Salvação Pública, no princípio.
Aqui comenta-se a execução de Danton. "Como é ver lá do alto uma execução?/Calmo/ Havia uma espécie de silêncio, um sentimento patriótico humilde que se apoderou da multidão. (...) Não imaginava um silêncio assim."
"Danton era amado do povo", diz um ainda tomado pela dúvida. Era um inimigo da revolução, remata Robespierre assim que surge, impecável, de camisa e gravata, mas sem blazer: "[Danton] Virou o seu pensamento e a sua pluma contra nós. Está morto."
"Regozijemo-nos/ A última facção caiu e o povo estava reunido em torno da sua queda", continua um elemento do grupo. "Reunido? Estava era aterrorizado", completa outro.
Como Danton - a quem o dramaturgo alemão do século XIX Georg Büchner dedicou uma peça "A Morte de Danton" - outros, além do rei Luís XVI, executado em 1793, serão depois disso impiedosamente executados.
Na peça realça-se a morte de Cécile Renault (e de toda a família), acusada de tentar assassinar Robespierre na rua entre a multidão. E de Lucille (mulher do Camille Desmoulins) que "espalha boatos, panfletos" contra o comité de salvação.
Será a primeira república também a primeira ditadura deste mundo? E será o seu representante um assassino? Diz Creuzevault: "A questão não é saber se foi ou não uma ditadura mas se o Terror surgiu da vontade da soberania popular, como resistência à opressão."
Robespierre diz que agiu em nome da virtude. "Tu salvaste a França e por isso mataste franceses. Disseste que não poderia ser feito de outra forma", é-lhe dito na récita de Saint-Just, no início.
"Não queríamos que ninguém morresse. Não te elegemos para que houvesse guerra, mas paz. Uma coisa é seres culpado, outra é ignorares sê-lo. Um vício." Essa é a distância que vai do vício à virtude.
http://ipsilon/.
salvador e assassino?
Por Ana Dias Cordeiro
A vida de Robespierre confunde-se com a Revolução Francesa de 1789 e com os anos de Terror que se seguiram. Mas em Paris não existe uma rua ou uma praça com o seu nome. Quererá a França recordar?
"Notre terreur", em cena na Culturgest assume-se como experiência colectiva política
Surge impecavelmente vestido, como se de um político do nosso século se tratasse. Camisa, gravata e calças de um fato que para ser completo apenas precisaria de um blazer. Surge impecável, mas em desconcerto.
Entre ele e o abismo é apenas uma questão de tempo. Robespierre é um herói, sim, mas um herói por poucos meses.
"Está a construir-se o cenário para a minha morte", diz antes da queda. Mas isso será mais à frente, num instante de lucidez, quando os espíritos entrarem em estado de embriaguez revolucionária e suicidária.
Agora, ainda se está num princípio. E o discurso de Robespierre é firme e eloquente. Mas o olhar vagueia, o corpo estremece. Como se já soubesse.
Nesse princípio, os revolucionários que agora governam no Comité da Salvação Pública esperam a sua chegada. É a ele que ouvem, é ele que seguem, como a um respeitado líder.
Para depois nele depositarem a culpa e o peso do que de mais terrível aconteceu na Revolução Francesa.
Lindet, Billaut, Collot, Couthon e os outros - aqui representados como homens comuns, dos dias de hoje - aguardam então à volta de uma mesa comprida. Um espaço, ocupado por nove homens, mas sobretudo de palavras, na criação colectiva que a companhia francesa "d'ores et déjà" traz na próxima semana a Lisboa.
Palavras que, juntas, criam o equilíbrio justo entre o peso filosófico e a leveza poética. Palavras que, de tão verdadeiras, não se esgotam. Sobre o ideal da revolução e o pesadelo do seu reverso.
"Notre terreur" ("O nosso terror") estará em cena no Grande Auditório da Culturgest nos dias 8, 9 e 10. A peça estreou em setembro de 2009 no La Colline - Théâtre National.
É uma criação sobre os anos do Terror (1793 e 1794) que se seguiram à Revolução Francesa de 1789 que derrubou a monarquia.
E é colectiva porque nela não se distingue (nem se hierarquiza) o trabalho do encenador, Sylvain Creuzevault, e dos actores, Samuel Achache, Benoit Carré, Antoine Cegarra, Éric Charon, Pierre Devérines, Vladislav Galard, Lionel Gonzalez, Arthur Igual e Léo-Antonin Lutinier.
É sempre esta a forma do grupo trabalhar. Mas nesta peça, serve de via natural para os actores entrarem na cabeça e na pele dos revolucionários. São-no já na forma de fazer teatro.
"O nosso objectivo é fazer de 'Notre terreur' um conflito que emane de uma experiência colectiva política e não de uma dominação psíquica e social de um encenador. [O nosso objectivo é] Quebrar os códigos da propriedade intelectual. Ficarmos de pé nas nossas posições, nunca sentados nos nossos lugares", diz Creuzevault numa entrevista por email antes da "troupe" vir para Lisboa.
Mas nada que se possa vislumbrar de um discurso político na peça tem a ver com os dias de hoje. Nada do que aqui se diz é metáfora para os excessos do século XXI. "O terror de então era totalmente diferente daquilo que hoje nomeamos o terrorismo de Estado", esclarece o encenador.
"O primeiro [terror] foi mais uma figura da resistência à opressão quando o segundo é uma opressão." Porém reconhece: "Esta não é efectivamente uma peça histórica. É política por natureza, mas sem uma função política."
A escrita é também colectiva, feita "no tempo dos ensaios e que continua frente aos espectadores", em cena, no palco, inspirada de alguns discursos de figuras da revolução, Georges Couthon, Saint-Just e Robespierre.
Denunciar a impostura
Maximilien Marie Isidore de Robespierre. Advogado, excelente orador, deputado da Convenção Nacional e um dos chefes do governo revolucionário.
Revolucionário da ala mais radical dos jacobinos que combateu a facção dos girondinos, fundador do Comité de Salvação Pública e personalidade da Revolução que mais divide os franceses. Figura sem medo no olho do furacão. Depois da vitoriosa revolta, personifica o Terror dos anos que se seguem.
Num breve momento de glória antes do fim, acredita que o seu nome sobreviverá à morte: "Place Robespierre! A moi la gloire! (A mim a Glória!)". Mas a França, hoje, não o celebra. Ou muito pouco.
As poucas ruas ou praças com o seu nome não são em Paris - no ano passado a Câmara Municipal votou essa restrição.
"Termos uma 'rua Robespierre' em Paris significava dizer que se aceitava que Robespierre não foi aquilo que, durante muito tempo, se fez dele e que ainda hoje se faz. Só uma tradição marxista tentou perceber o governo revolucionário e não apenas julgar Robespierre", considera Sylvain Creuzevault.
Por isso, também, só algumas cidades de políticas comunistas na chamada cintura vermelha em redor de Paris, têm ruas, praças ou estações de metro (como em Montreuil) em homenagem a Robespierre.
O resto é censura, diz o encenador. Mas quererá a França recordar? "Os franceses têm uma relação com esta época que surpreende, em que a exaltação se confunde com o medo", continua.
A visão ou versão dominante deste período faz-se quase de um só lado - o contra-revolucionário. O que a companhia quis fazer, explica Creuzevault, foi questionar essa visão de Robespierre como "de uma máscara do inimigo a abater, e sobre o seu corpo abatido, o lugar de um símbolo que ainda hoje é transmitido como reaccionário: o homem do sangue do Terror", diz. "Queríamos pelo teatro denunciar esta impostura, contrariá-la."
Robespierre carrega o peso desse terror mas também a aura de um libertador. Chamavam-lhe o "incorruptível" por defender o povo. E também o tirano, o ditador, o fanático. Levou ao extremo o ideal da liberdade, esmagando-o. Disso foi acusado. Foi mandado para a guilhotina e executado em 28 de Julho de 1794.
É dessa lenta descida ao inferno que trata "Notre terreur". Ele não implorará nada no fim. Acusará. O que era lúcido, nebuloso se tornará. Palavras sem nexo, faces pintadas, vestes rasgadas, objectos em desarrumo e a mesa que, de tão comprida e direita, parecia apontar para um caminho, está agora desalinhada.
"Já não há linha a direito", diz um dos membros do comité. Já não há uma luz, um sinal a mostrar por onde ir.
Quando pronuncia as últimas palavras - "a pátria queixa-se da nossa fraqueza" - Robespierre não procura compaixão, nem reconhece o impossível do seu ideal. Antes ataca, para se defender. Será isso que fez na realidade quando dele fizeram o tal monstro a abater?
"Decidimos tomar esse risco no teatro, e pensamos que ele o tomou também historicamente", explica Creuzevault.
"Que fazer de Robespierre, salvador e assassino?" pergunta Saint-Just, amigo de Robespierre e um dos membros mais radicais do comité, na primeira cena em que não representa a sua personagem mas recita um texto sobre a relação entre Robespierre e o povo.
E continua: "Viemos, Grande Robespierre, para te celebrar/ E, querido representante, para depositar as cores da pátria a teus pés/ E viemos ver no teu rosto de que são feitos os traços de um tirano."
Na récita, o actor deixa que o seu corpo seja tomado pela força das palavras. Fala para alguém, mas está sozinho. Estende a mão e, em representação do povo, declara: "Glória a ti, Grande Robespierre, representante do povo francês, salvador, libertador da primeira República deste mundo/ E maldito sejas tu, assassino, tirano da opinião, burguês sequioso de sangue inocente, de quem o sangue não devia ter derramado, do qual és culpado, e por isso serás castigado."
Nesta récita de introdução, o actor exalta-se e comove-se, contorce-se, antes de se converter na personagem que representa no resto da peça, Saint-Just, e juntar-se à mesa comprida do Comité da Salvação Pública, no princípio.
Aqui comenta-se a execução de Danton. "Como é ver lá do alto uma execução?/Calmo/ Havia uma espécie de silêncio, um sentimento patriótico humilde que se apoderou da multidão. (...) Não imaginava um silêncio assim."
"Danton era amado do povo", diz um ainda tomado pela dúvida. Era um inimigo da revolução, remata Robespierre assim que surge, impecável, de camisa e gravata, mas sem blazer: "[Danton] Virou o seu pensamento e a sua pluma contra nós. Está morto."
"Regozijemo-nos/ A última facção caiu e o povo estava reunido em torno da sua queda", continua um elemento do grupo. "Reunido? Estava era aterrorizado", completa outro.
Como Danton - a quem o dramaturgo alemão do século XIX Georg Büchner dedicou uma peça "A Morte de Danton" - outros, além do rei Luís XVI, executado em 1793, serão depois disso impiedosamente executados.
Na peça realça-se a morte de Cécile Renault (e de toda a família), acusada de tentar assassinar Robespierre na rua entre a multidão. E de Lucille (mulher do Camille Desmoulins) que "espalha boatos, panfletos" contra o comité de salvação.
Será a primeira república também a primeira ditadura deste mundo? E será o seu representante um assassino? Diz Creuzevault: "A questão não é saber se foi ou não uma ditadura mas se o Terror surgiu da vontade da soberania popular, como resistência à opressão."
Robespierre diz que agiu em nome da virtude. "Tu salvaste a França e por isso mataste franceses. Disseste que não poderia ser feito de outra forma", é-lhe dito na récita de Saint-Just, no início.
"Não queríamos que ninguém morresse. Não te elegemos para que houvesse guerra, mas paz. Uma coisa é seres culpado, outra é ignorares sê-lo. Um vício." Essa é a distância que vai do vício à virtude.
http://ipsilon/.