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Por Luísa Soares de Oliveira
Escultura, desenho, e sobretudo instalação na mais recente individual do escultor Miguel Ângelo Rocha
Pode começar-se a observação da mais recente exposição de Miguel Ângelo Rocha, "Um exemplo daquilo", pela enumeração dos objectos utilizados pelo artista ou dos materiais de que se serve: baldes, malas, mesas, bancos, lixo; cartão, jornais, madeira, gesso, canos de PVC, tintas, grafites.
Pode também explorar-se o modo de montagem de cada escultura: no chão, no teto, nas paredes.
Pode-se, enfim, tentar distinguir entre o que é portátil (passível de ser comprado e levado para casa) e o que desaparecerá no momento em que terminar a exposição: estão no primeiro caso algumas esculturas, entre as quais as que incluíram um minucioso e elaborado trabalho de marcenaria sobre orifícios de origem possivelmente aleatória, e no outro todas as peças que receberam uma espécie de sombra projectada desenhada e pintada directamente sobre a parede ou o chão.
E, finda esta tarefa, o visitante compreenderá que o trabalho de classificação de que se encarregou, embora sedutor, não era o essencial para compreender a essência do trabalho de Miguel Ângelo Rocha.
O artista, que tem exposto regularmente em Portugal e nos EUA ao longo dos últimos 20 anos, surpreende desde as suas primeiras obras pelos materiais escolhidos e pela interacção que as peças realizam com o espaço.
De início, a lona escolhida como revestimento de estruturas de madeira abalava o carácter sólido que se atribui à peça escultórica - aparentando-a mais à moleza de um organismo vivo do que à vocação eterna da pedra, da madeira, do bronze ou do mármore, matérias-primas tradicionais da escultura.
Com o passar dos anos, esta lona foi depois substituída por tecido colorido e, mais recentemente, pelo "ready-made": objectos gastos e já inúteis, a um passo da destruição, são cortados, abertos, transformados ou acoplados com matérias diversas para produzir uma peça escultórica.
É o que se passa nesta exposição, onde mesmo assim podemos encontrar uma espécie de torso de cartão, pendurado numa parede, a recordar esculturas dos anos 90.
E, finda esta tarefa, o visitante compreenderá que o trabalho de classificação de que se encarregou, embora sedutor, não era o essencial para compreender a essência do trabalho de Miguel Ângelo Rocha.
O artista, que tem exposto regularmente em Portugal e nos EUA ao longo dos últimos 20 anos, surpreende desde as suas primeiras obras pelos materiais escolhidos e pela interacção que as peças realizam com o espaço.
De início, a lona escolhida como revestimento de estruturas de madeira abalava o carácter sólido que se atribui à peça escultórica - aparentando-a mais à moleza de um organismo vivo do que à vocação eterna da pedra, da madeira, do bronze ou do mármore, matérias-primas tradicionais da escultura.
Com o passar dos anos, esta lona foi depois substituída por tecido colorido e, mais recentemente, pelo "ready-made": objectos gastos e já inúteis, a um passo da destruição, são cortados, abertos, transformados ou acoplados com matérias diversas para produzir uma peça escultórica.
É o que se passa nesta exposição, onde mesmo assim podemos encontrar uma espécie de torso de cartão, pendurado numa parede, a recordar esculturas dos anos 90.
Miguel Ângelo Rocha parece assim trabalhar num permanente diálogo não só com a história da escultura moderna, pela via do "ready-made" duchampiano, mas também com a sua própria obra: a cada memória do passado que se interpõe entre si e o acto de produzir nova escultura, contrapõe-lhe uma espécie de "sim, mas também" que impede a repetição e instaura a diferença.
Como referimos, muitas das obras que aqui vemos incluem um detalhe desenhado directamente sobre o chão ou a parede, por vezes apenas indicado por uma linha recta, outras preenchido com tinta de aspecto industrial.
No limite entre a aresta e a sombra, consoante o lugar que ocupa em cada escultura, este detalhe acaba por acentuar a efemeridade da própria arte: se a escultura apenas se materializa no momento em que se expõe, o seu lugar no circuito económico é questionado.
Mais: a escultura passa a depender apenas da percepção do espectador, e por isso de uma organicidade que é diferente em todos os casos.
Cada espectador criará de certo modo a obra que vê, do mesmo modo que cada um trará para a exposição as associações que só ele poderá fazer com os objectos que o rodeiam.
Uma das peças de chão acentua esta possível leitura da obra de Miguel Ângelo Rocha: trata-se de uma placa branca colocada na vertical e que parece intersectada por barras de madeira.
Como referimos, muitas das obras que aqui vemos incluem um detalhe desenhado directamente sobre o chão ou a parede, por vezes apenas indicado por uma linha recta, outras preenchido com tinta de aspecto industrial.
No limite entre a aresta e a sombra, consoante o lugar que ocupa em cada escultura, este detalhe acaba por acentuar a efemeridade da própria arte: se a escultura apenas se materializa no momento em que se expõe, o seu lugar no circuito económico é questionado.
Mais: a escultura passa a depender apenas da percepção do espectador, e por isso de uma organicidade que é diferente em todos os casos.
Cada espectador criará de certo modo a obra que vê, do mesmo modo que cada um trará para a exposição as associações que só ele poderá fazer com os objectos que o rodeiam.
Uma das peças de chão acentua esta possível leitura da obra de Miguel Ângelo Rocha: trata-se de uma placa branca colocada na vertical e que parece intersectada por barras de madeira.
A escultura, na sua aparente simplicidade, instaura uma intersecção no espaço que interfere de modo eficaz não só com os percursos possíveis do espectador na sala, como na percepção que este poderá ter das outras obras; por outro lado, vista de cima possui uma secção tão fina que a aproxima do desenho.
É por isso uma peça que trabalha tanto o espaço como aquele que nele se move. E remata, de modo particularmente feliz, esta série de um artista que demonstra aqui uma capacidade de renovação notável.
http://ipsilon
É por isso uma peça que trabalha tanto o espaço como aquele que nele se move. E remata, de modo particularmente feliz, esta série de um artista que demonstra aqui uma capacidade de renovação notável.
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